quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

11/9/2001: veja a implosão da primeira torre do World Trade Center

Quem me conhece sabe que eu nunca engoli a história de que o ataque às torres gêmeas do World Trade Center (WTC), em 11 de setembro de 2001, tenha sido obra de "terroristas islâmicos". Foi obra dos terroristas do Mossad -- o serviço secreto sionista que atua fora do Estado de Israel -- e da CIA. Minha certeza começou no momento em que vi a primeira torre caindo verticalmente, como se tivesse sido implodida. Como acompanhei TODAS as implosões acontecidas no Brasil, sei reconhecer uma quando a vejo.
Ainda em 2001, em dezembro, chegou as minhas mãos um livro de um ex-agente da CIA que se desligara da organização e se refugiara em Portugal. Ele mostrava várias das incoerências encontradas nas afirmações e nas "provas" apresentadas pela versão oficial -- inclusive as listas originais dos passageiros dos aviões que supostamente atingiram o WTC, o Pentágono e o solo, das quais não constava nenhum nome árabe. Esse agente as baixou da internet, nos portais de aviação dos EUA, assim que soube do ataque. Minutos depois as listas foram eliminadas desses portais. E aqueles aviões não levantaram voo em 11/9.
Depois disso passei a acompanhar as investigações dos grupos de intelectuais estadunidenses que também não acreditaram na versão oficial. Engenheiros, arquitetos, físicos, químicos, especialistas em aviação e em armamentos bélicos, militares, bombeiros e soldados que participaram do resgate das vítimas das torres, religiosos, filósofos, professores, cada qual no seu campo de saber, na sua especialidade, passaram a produzir provas de que o ataque foi planejado e executado por setores do governo dos EUA -- e aí se incluem diversos sionistas -- interessados em precipitar a guerra contra o Iraque e incitar temor na população, a fim de aprovar medidas de segurança que incluíssem apoio para novos gastos militares, leis capazes de retirar direitos civis e invadir a liberdade dos cidadãos. Esses setores sabiam que só uma grande tragédia convenceria a parte mais forte do governo, aquela que aconselhava George Bush, a decidir-se pela guerra.
À medida que vou encontrando, na internet, material que comprova minha hipótese, eu a vou confirmando. E aproveito para postar aqui esse material. Parte dele encontra-se em "Ataque às torres gêmeas: questionamentos de Ahmadinejad na ONU têm sentido". Outra parte (há muitas!) encontra-se aqui. O material é antigo, mas, como achei hoje meio por acaso, decidi postar. Você verá as explosões que provocaram a queda da primeira torre em câmara lentíssima e ouvirá os bombeiros conversando sobre essas explosões (típicas de um processo de implosão) num filme-reportagem que nunca foi ao ar nas televisões estadunidenses. Observe com atenção, leia as legendas em português e entenda por que um número crescente de pessoas, nos EUA e no mundo inteiro, não acredita na versão oficial sobre os ataques de 11 de setembro e exige apuração isenta e rigorosa dos fatos.
E não me venham com aquela velha lenga-lenga de "teoria da conspiração". Essa é mais uma invenção dos sionistas e dos setores de direita estadunidenses para desacreditar investigações e hipóteses sérias de gente seriíssima. Quanto aos Iluminati, prefiro não entrar nessa discussão por não ter dados suficientes para comprovar ou desacreditar as histórias que se contam sobre eles e seu objetivo de dominação mundial.
Por enquanto, fiquemos com a implosão da primeira torre.

A implosão da primeira torre

Começou a ciberguerra contra o poder político e financeiro

Internautas declaram cyberguerra contra poderosos que querem calar o Wikileaks.
Hackers de todo o mundo atacam sites de banco suíço, de cartões de crédito e os tiram do ar.
Hacker torna milionário habitante de Burkina-Faso, um dos países mais pobres do mundo.
   
A criatura que se rebela contra o criador e o personagem franzino vencendo o gigante são narrativas que venceram séculos e distâncias graças, primeiro, à rede informal de comunicação oral e, depois, ao registro escrito e à publicação impressa. Num tempo em que ninguém nem mesmo pensava em possibilidades como a internet, os aedos e as populações de pequenas vilas, feudos e cidades mantiveram vivas essas histórias, depois resgatadas e recontadas pela literatura -- o Frankenstein de Mary Shelley é, talvez, um dos exemplos mais famosos, assim como a narrativa bíblica de Davi e Golias. A filosofia política também se ocupou do tema: o conceito de luta de classes estabelecido por Karl Marx e o caminho para o comunismo libertador são a prova mais contundente de como esses mitos operaram na mente de pensadores os mais diversos.

O que nenhum de nós poderia supor, talvez, é que em pleno século XXI essas narrativas pudessem sair do papel e tornar-se uma realidade planetária. Pois é exatamente isso que está acontecendo neste exato momento. Pela internet, criatura do Pentágono, milhares de Davis enfrentam os Golias do mundo político e financeiro. Os ataques ao Wikileaks (WL), vindos de potências como Estados Unidos e União Europeia e de figurantes como o Tea Party -- movimento que reúne a extrema direita estadunidense -- reverberaram no Pentágono (óbvio), na Amazon.com (servidor que hospedava o WL), no sistema de pagamento on-line PayPal, nos cartões Mastercard e Visa e nos bancos em que o WL e Julian Assange, seu idealizador, mantém contas. A Amazon encerrou a hospedagem do WL, o que o manteve fora do ar por quase seis horas; o PayPal recusou-se a receber doações de internautas para o portal, os cartões de crédito Mastercard e Visa trataram de impedir que as doações de seus associados chegassem ao WL e os bancos encerraram as contas do site e de Assange.

Essa pressão política e econômica para forçar o fechamento do Wikileaks foi uma declaração de guerra aos internautas. Cientes de que o WL precisa ser mantido para mostrar a todos como funciona realmente o mundo, desmontando a tosca farsa elaborada diariamente pela mídia corporativa mundial, esses internautas sacaram suas armas e foram ao combate. No campo de batalha da internet criaram mais de 700 sites-espelho* do Wikileaks -- o portal Esquerda.net calculava, hoje, que esse número já chegara a 743 -- e apontaram seus mísseis para os sites do banco suíço que encerrou as contas WL, do Visa e do Mastercard, tirando-os do ar. Milhões de internautas do mundo inteiro acompanham a guerra, encorajando a armada reunida sob o título Anon_Operation (Operação dos Anônimos) para que amplie seu poder de fogo. "Keep firing" é a palavra de ordem. Acompanhe: @anon_operation.

Hackers conseguem tirar dinheiro desses portais e enviar a associações e ONGs que realizam trabalhos relevantes. Um deles, Tiny Dancer93, transformou em milionário um habitante de Burkina-Faso, um dos países mais pobres do mundo. Acompanhe: @wikileaks #Payitforward.

Assine a petição da Avaaz.org em defesa do Wikileaks: http://www.avaaz.org/po/wikileaks_petition/95.php?CLICKTF.

Nem o Pentágono poderia supor que sua invençãozinha para comunicação interna e externa acabaria apontada contra seu próprio sistema. Enquanto os EUA armam suas bases militares pelo planeta, a população, armada de inteligência e computadores, desfere golpes mortais nos centros de poder.


* Sites-espelho são aqueles que mantêm cópias fieis das páginas do site principal. Caso este último seja atacado e saia do ar, as informações continuam intactas nos espelhos e podem ser acessadas neles.

Como funciona o Wikileaks?

Julian Assange, idealizador do Wikileaks: desmascarando as negociatas do poder.

As duas mais recentes divulgações do Wikileaks -- os documentos secretos dos Estados Unidos sobre a guerra do Iraque e as mensagens sobre o papel policial das embaixadas estadunidenses no mundo -- abalaram politicamente o planeta. Criaram uma crise diplomática internacional sem precedentes, levaram vários membros da direita dos EUA a pedir a morte de Julian Assange (fundador do WL), tiraram o portal do ar por cinco horas depois que a Amazon.com recusou-se a manter-se como seu servidor e mostraram como a mídia corporativa é incapaz de ir às fontes certas, informar corretamente e agir em benefício do interesse público (coisa que ela gosta de alardear).
A divulgação dos documentos antes secretos alertou a todos nós, população mundial, como as negociações de bastidores levam em consideração apenas os interesses das potências -- ou melhor, "da" potência, os EUA. Para eles, nós simplesmente não existimos. Somos apenas mão de obra barata e manipulável, meras estatísticas de guerra, catástrofe ou epidemias. Organizemo-nos para mudar esse jogo.
O combate sem baixas e sem trégua que o Wikileaks promove contra os EUA transformou Julian Assange, idealizador do portal, em heroi dos justiceiros, rebeldes e contestadores da atual ordem mundial. Para saber quem é ele, o que pensa, como consegue os documentos que divulga e como protege suas fontes, assista à entrevista a seguir. O portal Esquerda.net -- hoje um site espelho do Wikileaks -- colocou legendas em português.    

Entrevista com Julian Assange - parte 1



Entrevista com Julian Assange - parte 2

Como funciona o Wikileaks?

Julian Assange, idealizador do Wikileaks: desmascarando as negociatas do poder.

As duas mais recentes divulgações do Wikileaks -- os documentos secretos dos Estados Unidos sobre a guerra do Iraque e as mensagens sobre o papel policial das embaixadas estadunidenses no mundo -- abalaram politicamente o planeta. Criaram uma crise diplomática internacional sem precedentes, levaram vários membros da direita dos EUA a pedir a morte de Julian Assange (fundador do WL), tiraram o portal do ar por cinco horas depois que a Amazon.com recusou-se a manter-se como seu servidor e mostraram como a mídia corporativa é incapaz de ir às fontes certas, informar corretamente e agir em benefício do interesse público (coisa que ela gosta de alardear).
A divulgação dos documentos antes secretos alertou a todos nós, população mundial, como as negociações de bastidores levam em consideração apenas os interesses das potências -- ou melhor, "da" potência, os EUA. Para eles, nós simplesmente não existimos. Somos apenas mão de obra barata e manipulável, meras estatísticas de guerra, catástrofe ou epidemias. Organizemo-nos para mudar esse jogo.
O combate sem baixas e sem trégua que o Wikileaks promove contra os EUA transformou Julian Assange, idealizador do portal, em heroi dos justiceiros, rebeldes e contestadores da atual ordem mundial. Para saber quem é ele, o que pensa, como consegue os documentos que divulga e como protege suas fontes, assista à entrevista a seguir. O portal Esquerda.net -- hoje um site espelho do Wikileaks -- colocou legendas em português.    

Entrevista com Julian Assange - parte 1



Entrevista com Julian Assange - parte 2

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Wikileaks desmascara líderes árabes

Com medo de perder seus privilégios como governantes, vários líderes árabes pedem ajuda aos EUA contra o Irã. O fato mostra quão dissociados esses líderes estão da opinião pública de seus países, toda ela antiestadunidense.
É espantoso verificar até que ponto chega a submissão desses líderes aos Estados Unidos, e tudo que eles estão dispostos a ceder para continuar reinando sobre os polpudos lucros que o petróleo lhes dá.
Leia o artigo de Lamis Andoni, da Al-Jazeera, traduzido pelo Coletivo Vila Vudu.


Qatar, 29/11/2010 -- A maioria dos líderes árabes querem que os EUA os livrem do Irã, mesmo que ao preço de uma guerra contra a República Islâmica, mas não o dizem publicamente porque temem a reação da opinião pública em seus países.

Os telegramas secretos dos diplomatas dos EUA em todo o Oriente Médio, vazados no fim de semana pela organização WikiLeaks, mostram vários líderes árabes enfraquecidos e assustados, que dependem da proteção dos EUA contra a ameaça potencial de o Irã ter armas atômicas e influenciar todo o mundo árabe.

Embora a hostilidade de líderes árabes contra o Irã não seja segredo, os documentos publicados por vários jornais ocidentais mostram que, para muitos governos árabes, o Irã parece ser problema maior que Israel.

Se Israel é vista como inimigo que rouba terras árabes, mata palestinos e pode causar instabilidade na Região, o Irã é visto como país e governo capazes de mobilizar a opinião pública árabe contra seus atuais governantes.

Nos contatos com diplomatas norte-americanos, líderes árabes referem-se ao Irã como “uma serpente”, “o mal”, “um polvo cujos tentáculos têm de ser cortados” –, mas são extraordinariamente mais comedidos quando, nesses contatos diplomáticos, discute-se Israel.
Os ‘emirados’ iranianos
O medo de que o Irã consiga inflar as divisões internas e fomentar ações de resistência popular em vários países brota de dois pontos; primeiro, o papel no Irã na luta contra Israel, sobretudo pelo apoio que os iranianos dão ao Hezbollah e ao Hamas; em segundo lugar, a influência do Irã nas comunidades xiitas em vários estados do Golfo.

Como se lê nos documentos agora revelados, vários líderes árabes mostram-se inseguros e sem qualquer confiança em meios próprios, quando manifestam a preocupação de que qualquer relacionamento [ing.engajement] que os EUA estabeleçam com o Irã só fará aumentar a “ameaça iraniana” e levará a uma situação na qual os EUA acabarão obrigados a deter o Irã “custe o que custar”. O mais surpreendente é que alguns funcionários árabes parecem realmente acreditar que o custo, em termos da instabilidade regional, de uma guerra contra o Irã, poderia ser menor que o preço que alguns governos pagarão se “não o Irã não for parado imediatamente”.

“Ou borbardeiam o Irã, ou convivam com a bomba iraniana. Sanções e incentivos-cenoura nada alterarão”, lê-se num dos telegramas, citando frase de Zaid Al Rifai, presidente do Senado [da Jordânia] e pai do atual primeiro-ministro da Jordânia. Embora Rifai – o telegrama continua – entenda que um ataque militar teria “impacto catastrófico na região”, ele ao mesmo tempo entende que impedir que o Irã adquira armas nucleares implica vantagens que contrabalançam o risco de instabilidade.

Apesar de os líderes árabes mostrarem-se muito mais preocupados com um Irã nuclear do que com uma Israel nuclear, é difícil comparar as posições, porque praticamente não há qualquer manifestação de líder árabe sobre Israel nos documentos publicados até agora. Essa dissimetria levantou suspeitas no mundo árabe, de que os vazamentos visassem a pressionar os líderes árabes a alinhar-se com Israel, contra o Irã.

Fato que vários comentaristas árabes anotaram é que, embora os documentos revelem líderes árabes mais obcecados contra o Irã do que contra Israel, não há qualquer referência, em nenhum telegrama, de que algum líder árabe se tenha jamais manifestado favorável a um pacto com Israel, contra o Irã.

Seja como for, e ainda sem certeza sobre a natureza desses vazamentos, o quadro que emerge até agora é de líderes árabes fracos, a mercê dos EUA e implorando a proteção do Tio Sam.

Os documentos revelam que especialmente os líderes do Golfo temem que o Irã use sua influência sobre as massas xiitas e em apoio ao Hamás e ao Hezbollah, para estabelecer bases populares firmes em outros países árabes. Um dos líderes dos Emirados Árabes Unidos disse, conforme relato de diplomata dos EUA ao seu governo, que “o Irã está criando ‘emirados’ em todo o mundo muçulmano, inclusive no sul do Líbano e em Gaza, ‘emirados’ latentes no Kuwait, no Bahrain e na província leste da Arábia Saudita, a mãe de todos os ‘emirados’ no sul do Iraque, e agora em Saada [Iêmen]”.

Em termos gerais, é como se ninguém estivesse realmente preocupado com a possibilidade de o Irã vir a usar armas atômicas – que todos sabem que o Irã ainda não tem. – O que realmente parece assustar os líderes árabes é que a capacidade nuclear que o Irã já tem e pode continuar a acumular venha a fazer da República Islâmica “uma superpotência na região”.

O que nenhum documento mostra é a pressão que os EUA exercem sobre os governos árabes para que tomem medidas contra o Irã. Ao excluir essa informação, os documentos mostram um retrato distorcido dos EUA, que aparecem nos telegramas como se continuassem a favorecer algum “contato diplomático” [ing.‘engagement’], e só os árabes exigissem o emprego de força militar contra o Irã.

A superpotência regional

A verdade pode ser mais complexa do que os documentos vazados sugerem, porque os líderes árabes são vulneráveis à pressão norte-americana. Parece evidente – como funcionários do governo da Jordânia disseram bem claramente – que muitos dos governos árabes pró-Ocidente temem muito qualquer ‘acordo’ ou ‘entendimento’ que venha a ocorrer entre iranianos e norte-americanos, à custa de árabes aliados dos EUA. Na raiz desse sentimento há a preocupação de que os EUA acabem por aceitar o Irã como principal potência regional e que, adiante, os EUA também venham a apoiar levantes populares apoiados pelo Irã dentro de outros Estados árabes.

Estados do Golfo, como Bahrain, Kuwait e Arábia Saudita temem que suas comunidades xiitas, com apoio do Irã, levantem-se contra os respectivos monarcas governantes; e Jordânia e Egito temem que o Irã apóie a Fraternidade Muçulmana (sunita) ou que, no mínimo, apóie a radicalização de movimentos populares no mundo árabe – sobretudo, em todos os casos, porque não parece haver solução à vista para a questão palestina.

Os telegramas vazados não bastam para pintar um quadro completo, mas revelam muito claramente a distância que separa os líderes políticos e as populações, em todo o mundo árabe.

O medo de que o Irã influencie as massas é, em larga medida, resultado de prosseguir a ocupação israelense de terras palestinas, e de não se ver qualquer avanço nas negociações entre árabes e israelenses. O apoio do Irã ao Hamás e, muito mais, ao Hezbollah – único grupo de resistência no mundo árabe que conseguiu forçar a retirada de israelenses que ocupavam terra árabe – põe vários governantes árabes em posição difícil, porque expõe o quanto são impotentes no confronto direto com Israel.

O que se lê agora nos documentos diplomáticos vazados por WikiLeaks enfraquecem ainda mais a imagem de líderes árabes ante a opinião pública no mundo árabe, o que torna ainda mais difícil para esses líderes pregarem publicamente a ideia de ataque militar ao Irã. Apesar de alguns dos medos que os líderes árabes manifestam aparecerem também em alguns segmentos da população, nenhum alto funcionário ou governante de país árabe, hoje, se atreveria a apontar publicamente o Irã, não Israel, como inimigo. Talvez o fizessem, sim, mas por pressão dos EUA e, mesmo assim, só em reunião secreta com diplomatas-espiões dos EUA e longe dos ouvidos da opinião pública.

Wikileaks desmascara líderes árabes

Com medo de perder seus privilégios como governantes, vários líderes árabes pedem ajuda aos EUA contra o Irã. O fato mostra quão dissociados esses líderes estão da opinião pública de seus países, toda ela antiestadunidense.
É espantoso verificar até que ponto chega a submissão desses líderes aos Estados Unidos, e tudo que eles estão dispostos a ceder para continuar reinando sobre os polpudos lucros que o petróleo lhes dá. Um nojo. Como descendente de árabes, deixo registrado meu repúdio a mais essa traição ao nosso povo, a mais essa demonstração de fraqueza e de ambição a todo custo.
Leia o artigo de Lamis Andoni, da Al-Jazeera, traduzido pelo Coletivo Vila Vudu.


Qatar, 29/11/2010 -- A maioria dos líderes árabes querem que os EUA os livrem do Irã, mesmo que ao preço de uma guerra contra a República Islâmica, mas não o dizem publicamente porque temem a reação da opinião pública em seus países.

Os telegramas secretos dos diplomatas dos EUA em todo o Oriente Médio, vazados no fim de semana pela organização WikiLeaks, mostram vários líderes árabes enfraquecidos e assustados, que dependem da proteção dos EUA contra a ameaça potencial de o Irã ter armas atômicas e influenciar todo o mundo árabe.

Embora a hostilidade de líderes árabes contra o Irã não seja segredo, os documentos publicados por vários jornais ocidentais mostram que, para muitos governos árabes, o Irã parece ser problema maior que Israel.

Se Israel é vista como inimigo que rouba terras árabes, mata palestinos e pode causar instabilidade na Região, o Irã é visto como país e governo capazes de mobilizar a opinião pública árabe contra seus atuais governantes.

Nos contatos com diplomatas norte-americanos, líderes árabes referem-se ao Irã como “uma serpente”, “o mal”, “um polvo cujos tentáculos têm de ser cortados” –, mas são extraordinariamente mais comedidos quando, nesses contatos diplomáticos, discute-se Israel.
Os ‘emirados’ iranianos
O medo de que o Irã consiga inflar as divisões internas e fomentar ações de resistência popular em vários países brota de dois pontos; primeiro, o papel no Irã na luta contra Israel, sobretudo pelo apoio que os iranianos dão ao Hezbollah e ao Hamas; em segundo lugar, a influência do Irã nas comunidades xiitas em vários estados do Golfo.

Como se lê nos documentos agora revelados, vários líderes árabes mostram-se inseguros e sem qualquer confiança em meios próprios, quando manifestam a preocupação de que qualquer relacionamento [ing.engajement] que os EUA estabeleçam com o Irã só fará aumentar a “ameaça iraniana” e levará a uma situação na qual os EUA acabarão obrigados a deter o Irã “custe o que custar”. O mais surpreendente é que alguns funcionários árabes parecem realmente acreditar que o custo, em termos da instabilidade regional, de uma guerra contra o Irã, poderia ser menor que o preço que alguns governos pagarão se “não o Irã não for parado imediatamente”.

“Ou borbardeiam o Irã, ou convivam com a bomba iraniana. Sanções e incentivos-cenoura nada alterarão”, lê-se num dos telegramas, citando frase de Zaid Al Rifai, presidente do Senado [da Jordânia] e pai do atual primeiro-ministro da Jordânia. Embora Rifai – o telegrama continua – entenda que um ataque militar teria “impacto catastrófico na região”, ele ao mesmo tempo entende que impedir que o Irã adquira armas nucleares implica vantagens que contrabalançam o risco de instabilidade.

Apesar de os líderes árabes mostrarem-se muito mais preocupados com um Irã nuclear do que com uma Israel nuclear, é difícil comparar as posições, porque praticamente não há qualquer manifestação de líder árabe sobre Israel nos documentos publicados até agora. Essa dissimetria levantou suspeitas no mundo árabe, de que os vazamentos visassem a pressionar os líderes árabes a alinhar-se com Israel, contra o Irã.

Fato que vários comentaristas árabes anotaram é que, embora os documentos revelem líderes árabes mais obcecados contra o Irã do que contra Israel, não há qualquer referência, em nenhum telegrama, de que algum líder árabe se tenha jamais manifestado favorável a um pacto com Israel, contra o Irã.

Seja como for, e ainda sem certeza sobre a natureza desses vazamentos, o quadro que emerge até agora é de líderes árabes fracos, a mercê dos EUA e implorando a proteção do Tio Sam.

Os documentos revelam que especialmente os líderes do Golfo temem que o Irã use sua influência sobre as massas xiitas e em apoio ao Hamás e ao Hezbollah, para estabelecer bases populares firmes em outros países árabes. Um dos líderes dos Emirados Árabes Unidos disse, conforme relato de diplomata dos EUA ao seu governo, que “o Irã está criando ‘emirados’ em todo o mundo muçulmano, inclusive no sul do Líbano e em Gaza, ‘emirados’ latentes no Kuwait, no Bahrain e na província leste da Arábia Saudita, a mãe de todos os ‘emirados’ no sul do Iraque, e agora em Saada [Iêmen]”.

Em termos gerais, é como se ninguém estivesse realmente preocupado com a possibilidade de o Irã vir a usar armas atômicas – que todos sabem que o Irã ainda não tem. – O que realmente parece assustar os líderes árabes é que a capacidade nuclear que o Irã já tem e pode continuar a acumular venha a fazer da República Islâmica “uma superpotência na região”.

O que nenhum documento mostra é a pressão que os EUA exercem sobre os governos árabes para que tomem medidas contra o Irã. Ao excluir essa informação, os documentos mostram um retrato distorcido dos EUA, que aparecem nos telegramas como se continuassem a favorecer algum “contato diplomático” [ing.‘engagement’], e só os árabes exigissem o emprego de força militar contra o Irã.

A superpotência regional

A verdade pode ser mais complexa do que os documentos vazados sugerem, porque os líderes árabes são vulneráveis à pressão norte-americana. Parece evidente – como funcionários do governo da Jordânia disseram bem claramente – que muitos dos governos árabes pró-Ocidente temem muito qualquer ‘acordo’ ou ‘entendimento’ que venha a ocorrer entre iranianos e norte-americanos, à custa de árabes aliados dos EUA. Na raiz desse sentimento há a preocupação de que os EUA acabem por aceitar o Irã como principal potência regional e que, adiante, os EUA também venham a apoiar levantes populares apoiados pelo Irã dentro de outros Estados árabes.

Estados do Golfo, como Bahrain, Kuwait e Arábia Saudita temem que suas comunidades xiitas, com apoio do Irã, levantem-se contra os respectivos monarcas governantes; e Jordânia e Egito temem que o Irã apóie a Fraternidade Muçulmana (sunita) ou que, no mínimo, apóie a radicalização de movimentos populares no mundo árabe – sobretudo, em todos os casos, porque não parece haver solução à vista para a questão palestina.

Os telegramas vazados não bastam para pintar um quadro completo, mas revelam muito claramente a distância que separa os líderes políticos e as populações, em todo o mundo árabe.

O medo de que o Irã influencie as massas é, em larga medida, resultado de prosseguir a ocupação israelense de terras palestinas, e de não se ver qualquer avanço nas negociações entre árabes e israelenses. O apoio do Irã ao Hamás e, muito mais, ao Hezbollah – único grupo de resistência no mundo árabe que conseguiu forçar a retirada de israelenses que ocupavam terra árabe – põe vários governantes árabes em posição difícil, porque expõe o quanto são impotentes no confronto direto com Israel.

O que se lê agora nos documentos diplomáticos vazados por WikiLeaks enfraquecem ainda mais a imagem de líderes árabes ante a opinião pública no mundo árabe, o que torna ainda mais difícil para esses líderes pregarem publicamente a ideia de ataque militar ao Irã. Apesar de alguns dos medos que os líderes árabes manifestam aparecerem também em alguns segmentos da população, nenhum alto funcionário ou governante de país árabe, hoje, se atreveria a apontar publicamente o Irã, não Israel, como inimigo. Talvez o fizessem, sim, mas por pressão dos EUA e, mesmo assim, só em reunião secreta com diplomatas-espiões dos EUA e longe dos ouvidos da opinião pública.

Wikileaks desmascara líderes árabes

Com medo de perder seus privilégios como governantes, vários líderes árabes pedem ajuda aos EUA contra o Irã. O fato mostra quão dissociadose esses líderes estão da opinião pública de seus países, toda ela antiestadunidense.
É espantoso verificar até que ponto chega a submissão desses líderes aos Estados Unidos, e tudo que eles estão dispostos a ceder para continuar reinando sobre os polpudos lucros que o petróleo lhes dá. Um nojo. Como descendente de árabes, deixo registrado meu repúdio a mais essa traição ao nosso povo.
Leia o artigo de Lamis Andoni, da Al-Jazeera, traduzido pelo Coletivo Vila Vudu.


 
Qatar, 29/11/2010 -- A maioria dos líderes árabes querem que os EUA os livrem do Irã, mesmo que ao preço de uma guerra contra a República Islâmica, mas não o dizem publicamente porque temem a reação da opinião pública em seus países.

Os telegramas secretos dos diplomatas dos EUA em todo o Oriente Médio, vazados no fim de semana pela organização WikiLeaks, mostram vários líderes árabes enfraquecidos e assustados, que dependem da proteção dos EUA contra a ameaça potencial de o Irã ter armas atômicas e influenciar todo o mundo árabe.

Embora a hostilidade de líderes árabes contra o Irã não seja segredo, os documentos publicados por vários jornais ocidentais mostram que, para muitos governos árabes, o Irã parece ser problema maior que Israel.

Se Israel é vista como inimigo que rouba terras árabes, mata palestinos e pode causar instabilidade na Região, o Irã é visto como país e governo capazes de mobilizar a opinião pública árabe contra seus atuais governantes.

Nos contatos com diplomatas norte-americanos, líderes árabes referem-se ao Irã como “uma serpente”, “o mal”, “um polvo cujos tentáculos têm de ser cortados” –, mas são extraordinariamente mais comedidos quando, nesses contatos diplomáticos, discute-se Israel.
Os ‘emirados’ iranianos
O medo de que o Irã consiga inflar as divisões internas e fomentar ações de resistência popular em vários países brota de dois pontos; primeiro, o papel no Irã na luta contra Israel, sobretudo pelo apoio que os iranianos dão ao Hezbollah e ao Hamas; em segundo lugar, a influência do Irã nas comunidades xiitas em vários estados do Golfo.

Como se lê nos documentos agora revelados, vários líderes árabes mostram-se inseguros e sem qualquer confiança em meios próprios, quando manifestam a preocupação de que qualquer relacionamento [ing.engajement] que os EUA estabeleçam com o Irã só fará aumentar a “ameaça iraniana” e levará a uma situação na qual os EUA acabarão obrigados a deter o Irã “custe o que custar”. O mais surpreendente é que alguns funcionários árabes parecem realmente acreditar que o custo, em termos da instabilidade regional, de uma guerra contra o Irã, poderia ser menor que o preço que alguns governos pagarão se “não o Irã não for parado imediatamente”.

“Ou borbardeiam o Irã, ou convivam com a bomba iraniana. Sanções e incentivos-cenoura nada alterarão”, lê-se num dos telegramas, citando frase de Zaid Al Rifai, presidente do Senado [da Jordânia] e pai do atual primeiro-ministro da Jordânia. Embora Rifai – o telegrama continua – entenda que um ataque militar teria “impacto catastrófico na região”, ele ao mesmo tempo entende que impedir que o Irã adquira armas nucleares implica vantagens que contrabalançam o risco de instabilidade.

Apesar de os líderes árabes mostrarem-se muito mais preocupados com um Irã nuclear do que com uma Israel nuclear, é difícil comparar as posições, porque praticamente não há qualquer manifestação de líder árabe sobre Israel nos documentos publicados até agora. Essa dissimetria levantou suspeitas no mundo árabe, de que os vazamentos visassem a pressionar os líderes árabes a alinhar-se com Israel, contra o Irã.

Fato que vários comentaristas árabes anotaram é que, embora os documentos revelem líderes árabes mais obcecados contra o Irã do que contra Israel, não há qualquer referência, em nenhum telegrama, de que algum líder árabe se tenha jamais manifestado favorável a um pacto com Israel, contra o Irã.

Seja como for, e ainda sem certeza sobre a natureza desses vazamentos, o quadro que emerge até agora é de líderes árabes fracos, a mercê dos EUA e implorando a proteção do Tio Sam.

Os documentos revelam que especialmente os líderes do Golfo temem que o Irã use sua influência sobre as massas xiitas e em apoio ao Hamás e ao Hezbollah, para estabelecer bases populares firmes em outros países árabes. Um dos líderes dos Emirados Árabes Unidos disse, conforme relato de diplomata dos EUA ao seu governo, que “o Irã está criando ‘emirados’ em todo o mundo muçulmano, inclusive no sul do Líbano e em Gaza, ‘emirados’ latentes no Kuwait, no Bahrain e na província leste da Arábia Saudita, a mãe de todos os ‘emirados’ no sul do Iraque, e agora em Saada [Iêmen]”.

Em termos gerais, é como se ninguém estivesse realmente preocupado com a possibilidade de o Irã vir a usar armas atômicas – que todos sabem que o Irã ainda não tem. – O que realmente parece assustar os líderes árabes é que a capacidade nuclear que o Irã já tem e pode continuar a acumular venha a fazer da República Islâmica “uma superpotência na região”.

O que nenhum documento mostra é a pressão que os EUA exercem sobre os governos árabes para que tomem medidas contra o Irã. Ao excluir essa informação, os documentos mostram um retrato distorcido dos EUA, que aparecem nos telegramas como se continuassem a favorecer algum “contato diplomático” [ing.‘engagement’], e só os árabes exigissem o emprego de força militar contra o Irã.

A superpotência regional

A verdade pode ser mais complexa do que os documentos vazados sugerem, porque os líderes árabes são vulneráveis à pressão norte-americana. Parece evidente – como funcionários do governo da Jordânia disseram bem claramente – que muitos dos governos árabes pró-Ocidente temem muito qualquer ‘acordo’ ou ‘entendimento’ que venha a ocorrer entre iranianos e norte-americanos, à custa de árabes aliados dos EUA. Na raiz desse sentimento há a preocupação de que os EUA acabem por aceitar o Irã como principal potência regional e que, adiante, os EUA também venham a apoiar levantes populares apoiados pelo Irã dentro de outros Estados árabes.

Estados do Golfo, como Bahrain, Kuwait e Arábia Saudita temem que suas comunidades xiitas, com apoio do Irã, levantem-se contra os respectivos monarcas governantes; e Jordânia e Egito temem que o Irã apóie a Fraternidade Muçulmana (sunita) ou que, no mínimo, apóie a radicalização de movimentos populares no mundo árabe – sobretudo, em todos os casos, porque não parece haver solução à vista para a questão palestina.

Os telegramas vazados não bastam para pintar um quadro completo, mas revelam muito claramente a distância que separa os líderes políticos e as populações, em todo o mundo árabe.

O medo de que o Irã influencie as massas é, em larga medida, resultado de prosseguir a ocupação israelense de terras palestinas, e de não se ver qualquer avanço nas negociações entre árabes e israelenses. O apoio do Irã ao Hamás e, muito mais, ao Hezbollah – único grupo de resistência no mundo árabe que conseguiu forçar a retirada de israelenses que ocupavam terra árabe – põe vários governantes árabes em posição difícil, porque expõe o quanto são impotentes no confronto direto com Israel.

O que se lê agora nos documentos diplomáticos vazados por WikiLeaks enfraquecem ainda mais a imagem de líderes árabes ante a opinião pública no mundo árabe, o que torna ainda mais difícil para esses líderes pregarem publicamente a ideia de ataque militar ao Irã. Apesar de alguns dos medos que os líderes árabes manifestam aparecerem também em alguns segmentos da população, nenhum alto funcionário ou governante de país árabe, hoje, se atreveria a apontar publicamente o Irã, não Israel, como inimigo. Talvez o fizessem, sim, mas por pressão dos EUA e, mesmo assim, só em reunião secreta com diplomatas-espiões dos EUA e longe dos ouvidos da opinião pública.

sábado, 27 de novembro de 2010

Mulheres de todo o mundo, uni-vos!



por Baby Siqueira Abrão

Oprimidas pela sharia, a lei de costumes dos fundamentalistas islâmicos, e pelas tradições tribais, as mulheres do Oriente Médio e da África começam a se organizar para mudar sua situação. No Afeganistão, elas exigem ser ouvidas nas conversações de paz -- que envolvem o Talibã, identificado pelas afegãs como seu pior inimigo --, para que sejam encontradas saídas capazes de garantir seus direitos. Por ter consciência de que a defesa desses direitos vem sendo usada com fins políticos pelos EUA e pela OTAN, elas pedem a retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão.
Na África do Sul, onde a média de assassinatos domésticos de mulheres é o maior do mundo, elas vêm se unindo em várias áreas, em especial na COSATU (Congress of South African Trade Unions), para reivindicar políticas públicas não sexistas. E vão além, cientes de que sua situação é fruto de um sistema tradicional e de classes que traz miséria a seu país e obriga a população desassistida a recorrer ao único "instrumento de trabalho" que lhe resta -- o uso do corpo, a prostituição -- para sobreviver. Elas também têm clareza de que o problema só será superado com a sensibilização dos homens e sua adesão a essa luta.
Leia, a seguir, dois artigos publicados no portal Frontlines of Revolutionary Struggle sobre as mulheres do Afeganistão e da África do Sul.
A tradução de ambos os artigos é minha.


Afegãs querem liberdade e igualdade de direitos

Em Cabul, afegãs exigem que o governo adote medidas contra os assassinos de cinco mulheres


Por Kanya D'Almeida

NAÇÕES UNIDAS (IPS), 21/11/2010 - O Afeganistão não conhecerá a paz até que as mulheres possam participar das negociações em pé de igualdade com os homens, sublinha um relatório divulgado pelo Kroc Institute for International Peace Studies da Universidade de Notre Dame.
"Não queremos que o mundo nos veja como vítimas", disse Afifa Azim, diretora geral da Rede de Mulheres Afegãs, que está trabalhando em colaboração com o Kroc Institute. "As mulheres afegãs devem estar à mesa se o processo de paz quiser avançar. Se não houver mulher nas negociações, não haverá paz."
Co-autoria de David Cortright e Sarah Persinger, o relatório, intitulado "Mulheres afegãs falam: aumentando a segurança e os direitos humanos no Afeganistão", foi apresentado como parte da Conferência de Paz, que durante uma semana comemorou o 10 º aniversário da Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU, “Sobre Mulher, Paz e Segurança. O relatório inclui cerca de 50 entrevistas com mulheres líderes, parlamentares, ativistas, diretoras de escolas, funcionárias de ONGs e de saúde, oficiais do exército e policiais de Cabul, no Afeganistão, entre abril e maio de 2010.
Desde que as forças lideradas pelos Estados Unidos derrubaram o Taliban, em 2001, os críticos dizem que Washington balançou a questão da emancipação das mulheres sobre a cabeça da comunidade internacional, utilizando-a para justificar a ocupação militar prolongada. Especialistas e decididores políticos do Ocidente em grande parte engoliram esse argumento, aceitando a justificativa da luta em prol das mulheres afegãs com grande entusiasmo, continuando a apoiar as tropas dos EUA e da OTAN no Oriente Médio.
Mas tais argumentos simplistas representam mais uma ameaça do que uma salvação para as mulheres afegãs, afirmam muitos.
"As mulheres estão conscientes de que seus direitos vêm sendo manipulados para fins políticos que nada têm a ver com suas prerrogativas socioeconômicas e políticas", disse Cortright, diretor de estudos de políticas do Kroc Institute.  "Elas desconfiam ao máximo dessas tentativas de justificar as políticas de militarização."
Ao apresentar seu relatório no Centro Eclesiástico das Nações Unidas em 18 de novembro, Cortright salientou que, para que a comunidade internacional trabalhe no sentido da obtenção de um processo de paz sustentável e equitativo, os EUA e seus aliados deveriam se retirar do Afeganistão imediatamente.
"É claro que a presença das tropas estrangeiras é o motor da insurgência", disse ele. "Temos visto que, quanto mais a ocupação prossegue, pior é a ameaça à segurança humana, maior é o número de civis mortos e mais forte se torna a insurgência."
A única questão, de acordo com Cortright, é como sair sem prejudicar os escassos ganhos que o movimento de mulheres conseguiu na última década.
Persinger, pesquisadora associada do Kroc Institute, advertiu que qualquer alteração política não deve prejudicar os grandes avanços conquistados para a emancipação das mulheres no Afeganistão desde a ocupação realizada pelas tropas ocidentais.
Várias entrevistadas expressaram opiniões decididas sobre melhorias na educação, no acesso à saúde e na participação econômica e política das mulheres após os talibãs terem perdido um pouco do terreno.
O que o relatório deixa claro, porém, é que, para a maioria das mulheres afegãs, a guerra significa escolher entre o demônio e o profundo mar azul. Autora e autor afirmam que será "impossível, para mulheres e meninas, consolidar seu poder num ambiente militarizado".
O relatório prossegue dizendo que "o clima de impunidade e insegurança produziu novas formas de impotência para mulheres e meninas afegãs [...] que se tornaram viúvas, tiveram de sair de seus locais de moradia, foram vítimas do tráfico e obrigadas a se casar, como resultado do conflito".
Por causa dos códigos de honra em relação às mulheres, consagrados na Sharia, a violência e a turbulência em Cabul após a invasão dos EUA levou ao enclausuramento dos membros da família do sexo feminino, prática gravemente prejudicial à liberdade de movimento das mulheres.
Muitas não estão autorizadas a deixar suas casas, nem mesmo para ir à escola. Como o Taliban vem recorrendo sistematicamente a ataques contra a população civil, em resposta à presença militar estrangeira, escolas e instalações médicas têm levado uma surra severa. Segundo o relatório, praticamente todas as escolas na província de Khost foram destruídas.
Embora historicamente a participação feminina nas eleições seja elevada – cerca de 45% --, a eleição de 2009, que decorreu sob a égide de vários observadores estrangeiros, teve uma participação insignificante: 20%.
Assim, o que é particularmente preocupante nos bastidores das conversações de paz envolvendo o Taliban é que as vozes das mulheres não serão ouvidas.
"Paz não significa ausência de armas", disse Aziz à IPS. "A paz deve acontecer em todas as esferas da vida social nacional. E isso significa igualdade de representação das mulheres nas negociações de paz."
Uma das recomendações do relatório é a criação de um governo interino, liderado por muçulmanos, para supervisionar a retirada das tropas ocidentais e para, ao mesmo tempo, trabalhar de perto com as mulheres, a fim de garantir uma transição justa para a paz. "O problema não é a sharia", Aziz observou, "mas a talibanização da sharia ."
Cortright sugeriu que a Organisation of the Islamic Conference [Organização da Conferência Islâmica] pode desempenhar um papel fundamental durante esse período. O relatório também destacou que a redução de tropas deve ser acompanhada por um aumento das dotações de auxílio para a educação e a saúde.
Entretanto, muitas mulheres afegãs continuam céticas e temerosas quanto ao futuro. Uma delas, falando sob a condição do anonimato, disse que a sharia torna quase impossível conceber as liberdades fundamentais como direitos reprodutivos, sociais e educacionais.
"Como podemos esperar ter representação nas negociações de paz quando não nos é nem mesmo permitido ser tratadas em hospitais? Isso não vai acontecer", informou a mulher à IPS.
A despeito das opiniões divergentes, parece reconhecer-se que o sucesso da Resolução 1325 depende de como ela responde às necessidades das mulheres no Afeganistão.
Azim apelou à ONU para levar a sério a precariedade da situação. "Sem o apoio de toda a comunidade internacional, as mulheres não terão paz no Afeganistão", disse ela à IPS.
 Originalhttp://revolutionaryfrontlines.wordpress.com/2010/11/21/afghan-women-demand-liberation-reject-being-pretext-for-war/#more-13210


Sul-africanas dão cartão vermelho para o patriarcado 

Sul-africanas exigem o fim da violência sexual  e organizam-se para lutar por seus direitos.

Por Tahir Sema, da União Sul-Africana dos Trabalhadores Municipais da COSATU
JOANESBURGO, 26/11/2010 -- No lançamento de outros 16 Dias de Ação vale a pena indagar se a campanha terá algum impacto. Afinal, para quase todos os lugares que você olhar, haverá indícios de que algumas coisas estão piorando.


Crianças em idade escolar vêm sendo acusados de estupro; clipes são feitos e distribuídos amplamente, mostrando jovens abusados por pessoas que têm a responsabilidade de cuidar deles; casais do mesmo sexo, sobretudo jovens lésbicas, continuam sujeitas ao horror do chamado “estupro corretivo". A lista é interminável. Para além das manchetes sensacionalistas da mídia, o abuso "cotidiano" de mulheres e crianças permanece, mesmo a portas fechadas.
Como se isso não bastasse, temos o degenerado espetáculo de um rico líder de negócios ricos comemorando seu aniversário de modo extravagante, comendo sushi sobre o corpo quase nu de uma mulher com metade de sua idade e ostentando o tratamento de um ser humano como objeto sexual.
Esses eventos não ocorrem por acidente. Eles não estão divorciados do que acontece em nossa sociedade. A condição econômica e social a que muitas pessoas estão presas alimenta um comportamento muito perigoso e prejudicial. Pergunte a qualquer mulher jovem que tenha um contrato de trabalho de curto prazo se ela acha que o assédio sexual é coisa do passado. E ouça atentamente a resposta. As jovens, em particular aquelas capturadas na armadilha dos contratos de curto prazo nos setores público e privado, estão cada vez mais sujeitas aos avanços impróprios de seus empregadores ou de seus agentes. Ou elas prestam favores sexuais ou voltam a fazer parte da enorme massa de desempregados.
Procure nas ruas de nossas cidades e vilas. Meninas e meninos dispõem-se à prostituição, a fim de escapar de um empobrecimento crescente. No contexto do HIV/AIDS isso é catastrófico para as gerações futuras.
Acreditamos que na raiz dessa situação está a reafirmação dos valores e das práticas patriarcais, e a ideia de que os homens, em especial aqueles com poder e influência, são irrepreensíveis. Como é possível que um líder nacional da juventude seja capaz de exibir publicamente a decisão de uma parte de nossa máquina de igualdade de Estado sem ser chamado à ordem pelos mais velhos ou pela Liga das mulheres? Essas questões "pessoais" e patriarcais podem ser consideradas fora de crítica e, portanto, fora dos limites?
No entanto, há esperança no horizonte. Muitas mulheres de todas as idades preparam-se para enfrentar e combater o assédio sexual. Muitas já não estão dispostas a ser espancadas por homens com egos danificados e com mortal baixa autoestima. As mulheres estão se organizando e dizendo “basta”!
Também é encorajador o fato de que muitos homens não permaneçam em silêncio quando outros homens usam termos sexistas para descrever as mulheres nem tenham conivência com representações negativas e com a exploração sexual. Muitos finalmente enxergaram a importância de se levantar contra o sexismo, a homofobia e outras tendências divisionistas, e usar de argumentação para unir a comunidade, principalmente os pobres e a classe trabalhadora. Essa atitude deve ser aplaudida e ampliar-se.
Com o aprofundamento da crise econômica, somos chamados a defender nosso padrão de vida e nosso emprego, mas devemos manter pé firme contra todas as formas de discriminação. Isso é essencial para maximizar a unidade e a solidariedade.
Essa união, como a maioria dentro da COSATU, tem muitas políticas corretas que procuram construir e celebrar a unidade da classe trabalhadora. A tarefa de todos aqueles que são sérios é denunciar os abusos, atuar contra o sentimento machista, racista, homofóbico ou xenófobo e persuadir os outros a fazer o mesmo.
Mais importante ainda, é dever de todos nós dar o exemplo e praticar o que pregamos para que nossos jovens possam se espelhar em modelos positivos. Só então podemos começar a quebrar o ciclo de abuso e “coisificação” que arruína muitas vidas jovens e promissoras, e construir uma sociedade que despreze os que medem o sucesso pelas peças de sushi que podem se equilibrar sobre a cintura de uma jovem nua.
Dê um cartão vermelho ao patriarcado! Abaixo o assédio sexual!
Mulheres e homens, levantem-se e unam-se contra o sexismo e contra todas as formas de discriminação!
Sindicalistas, vamos dar o exemplo e praticar o que pregamos!