Vocês se lembram, claro, de uma frase genial com que Osvald de Andrade criticava os nacionalistas -- sempre conservadores e resistentes a todo tipo de arte que não fosse a de raiz -- no também genial Manifesto antropofágico: "Só a antropofagia nos une".
A frase me veio à mente ao assistir a Skateistan!, o mais recente vídeo postado pela equipe do Cultures of Resistence, capitaneado por nossa querida Iara Lee. Dessa vez eles foram ao Afeganistão para registrar a resistência das jovens e dos jovens afegãos que sobrevivem diariamente à ocupação militar dos EUA. Por isso a frase de Osvald brilhou em minha mente: porque poderia ser parodiada, além de usada ao pé da letra. Só a antropofagia e a resistência nos unem -- a nós, seres vivos contrários à expansão imperial, violenta, de um dos dois Estados terroristas, e cada vez mais fascistas, do mundo: os Estados Unidos (o outro Estado terrorista, como todos sabem, é a "entidade sionista", ou seja, Israel).
A lei da antropofagia manda manter no corpo o que nutre e vale a pena; o organismo se encarrega de transformar em dejetos tudo o mais. A lei da resistência estabelece a necessidade de manter o rumo da batalha pela possibilidade de um outro mundo, mais gostoso, mais livre, mais justo.
Lembre-se disso ao ver a atividade das crianças afegãs ao "antropofogizar" o skate, vindo dos EUA. Lembre-se disso também ao ouvir as afirmações decididas das meninas afegãs sobre a igualdade de direitos entre os gêneros. A geração que vem por aí pode transformar a podridão em adubo.
Antropofagia também é ato de resistência. E resistência é fonte de transformação.
Skateistan! from Cultures of Resistance on Vimeo.
Até que esta mulecada aprendeu um pocado com os Norte Americanos. Ta vendo, os Americanos estao deixando pra esta mininada um belo esporte emuito divertimento......
ResponderExcluirAlgumas observações: a) como já afirmou o prof. Fiorin, da USP, nenhuma linguagem é isenta; b) por isso mesmo, não dá para chamar os estadunidenses de norte-americanos, uma vez que norte-americanos também são os canadenses, os mexicanos...; c) por igual razão, não os chamamos "americanos", dado que americanos somos todos nós, das Américas do Sul, Central e do Norte; d) por isso mesmo, rigorosamente falando, quem nasce nos EUA é estadunidense. Não são os estadunidenses que ensinam skate às afegãs. Citei os EUA porque foi de lá que o skate se espalhou pelo mundo. As garotas afegãs, por seus belos depoimentos, já demonstraram ser "antropófagas": ficam com o que lhes serve do mundo ocidental (skate, igualdade de gêneros) e desprezam o restante. Salve elas!
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