sábado, 25 de setembro de 2010

Skateistán!

Vocês se lembram, claro, de uma frase genial com que Osvald de Andrade criticava os nacionalistas -- sempre conservadores e resistentes a todo tipo de arte que não fosse a de raiz -- no também genial Manifesto antropofágico: "Só a antropofagia nos une".
A frase me veio à mente ao assistir a Skateistan!, o mais recente vídeo postado pela equipe do Cultures of Resistence, capitaneado por nossa querida Iara Lee. Dessa vez eles foram ao Afeganistão para registrar a resistência das jovens e dos jovens afegãos que sobrevivem diariamente à ocupação militar dos EUA. Por isso a frase de Osvald brilhou em minha mente: porque poderia ser parodiada, além de usada ao pé da letra. Só a antropofagia e a resistência nos unem -- a nós, seres vivos contrários à expansão imperial, violenta, de um dos dois Estados terroristas, e cada vez mais fascistas, do mundo: os Estados Unidos (o outro Estado terrorista, como todos sabem, é a "entidade sionista", ou seja, Israel).
A lei da antropofagia manda manter no corpo o que nutre e vale a pena; o organismo se encarrega de transformar em dejetos tudo o mais. A lei da resistência estabelece a necessidade de manter o rumo da batalha pela possibilidade de um outro mundo, mais gostoso, mais livre, mais justo.
Lembre-se disso ao ver a atividade das crianças afegãs ao "antropofogizar" o skate, vindo dos EUA. Lembre-se disso também ao ouvir as afirmações decididas das meninas afegãs sobre a igualdade de direitos entre os gêneros. A geração que vem por aí pode transformar a podridão em adubo.
Antropofagia também é ato de resistência. E resistência é fonte de transformação.


Skateistan! from Cultures of Resistance on Vimeo.

2 comentários:

  1. Até que esta mulecada aprendeu um pocado com os Norte Americanos. Ta vendo, os Americanos estao deixando pra esta mininada um belo esporte emuito divertimento......

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  2. Algumas observações: a) como já afirmou o prof. Fiorin, da USP, nenhuma linguagem é isenta; b) por isso mesmo, não dá para chamar os estadunidenses de norte-americanos, uma vez que norte-americanos também são os canadenses, os mexicanos...; c) por igual razão, não os chamamos "americanos", dado que americanos somos todos nós, das Américas do Sul, Central e do Norte; d) por isso mesmo, rigorosamente falando, quem nasce nos EUA é estadunidense. Não são os estadunidenses que ensinam skate às afegãs. Citei os EUA porque foi de lá que o skate se espalhou pelo mundo. As garotas afegãs, por seus belos depoimentos, já demonstraram ser "antropófagas": ficam com o que lhes serve do mundo ocidental (skate, igualdade de gêneros) e desprezam o restante. Salve elas!

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